Hoje em dia, é inegável o poder de influência dos criadores de conteúdo, influenciadores e líderes de opinião digitais na sociedade. Com suas vozes, moldam opiniões, impulsionam decisões de compra, promovem causas sociais e até influenciam eleições políticas. Essa capacidade de impacto em massa lhes confere um poder sem precedentes - mas também uma responsabilidade crucial: informar com critério e ética, e estar conscientes do efeito que suas palavras e conteúdos podem ter sobre o público.
Afinal, tornaram-se fontes fundamentais de informação e recomendação para milhões de usuários. E como diz o ditado: com grande poder vem grande responsabilidade.
Verificação: um passo esquecido?
Segundo um relatório recente da Unesco, apenas 36,9% dos criadores de conteúdo admitem verificar as informações antes de publicá-las. Esse dado revela uma preocupante falta de rigor informativo entre aqueles que produzem conteúdos capazes de alcançar milhares ou até milhões de pessoas.
Compartilhar dados, notícias ou afirmações sem checagem pode amplificar fake news, teorias da conspiração e desinformação.
O problema não está apenas na intenção: muitos criadores não reconhecem como desinformação os conteúdos emocionais ou anedóticos que viralizam. No entanto, a linha entre opinião pessoal e afirmação falsa pode ser extremamente tênue. Verificar antes de publicar deveria ser um passo básico e obrigatório em qualquer fluxo de criação - especialmente ao tratar de temas como saúde, política, direitos humanos ou atualidades.
Além disso, a verificação fortalece a credibilidade do criador a longo prazo. Aqueles que se comprometem com a verdade constroem comunidades mais fiéis e engajadas.
Experiência pessoal vs. fontes confiáveis
58% dos criadores digitais admitem basear-se principalmente em experiências pessoais como fonte de informação, enquanto apenas uma minoria recorre a fontes institucionais ou especialistas reconhecidos. Essa prática, embora compreensível no contexto de conteúdos de lifestyle ou desenvolvimento pessoal, pode ser problemática quando se tratam temas complexos como saúde, política, meio ambiente ou direitos humanos.
A tendência de compartilhar “o que parece real” ou “o que vivi em primeira pessoa” nem sempre reflete uma verdade objetiva ou aplicável a outros contextos. O problema se agrava quando essas narrativas pessoais são apresentadas como fatos, sem esclarecimentos, o que pode levar ao erro ou reforçar crenças equivocadas. Em contextos de crise - como pandemias, conflitos geopolíticos ou fenômenos sociais - essa falta de checagem pode amplificar rapidamente a desinformação em larga escala.
Apostar em fontes confiáveis não significa abrir mão do lado pessoal, mas sim saber equilibrá-lo com responsabilidade. Uma experiência vivida pode ilustrar uma realidade, mas não substitui o valor de dados verificados, estudos científicos ou a opinião de especialistas. Influenciadores responsáveis combinam o anedótico com o verificável, oferecendo autenticidade sem sacrificar o rigor.
Incluir links para fontes oficiais, citar pesquisas ou até convidar profissionais para validar as informações é uma prática cada vez mais valorizada por audiências que buscam conteúdo confiável e de qualidade.
Conhecimento legal e ético: um déficit preocupante
Segundo o mesmo relatório, mais de 10% dos criadores de conteúdo acreditam, de forma equivocada, que as leis de difamação, direitos autorais ou proteção de dados não se aplicam ao que publicam em redes sociais, plataformas de streaming ou blogs pessoais. Essa percepção errada pode resultar em sanções legais, bloqueio de conteúdo, perda de monetização ou danos à reputação pessoal e profissional.
O ambiente digital não é uma terra sem lei. As normas que protegem a privacidade, a propriedade intelectual e a integridade das pessoas também valem nesse espaço. Usar imagens sem licença, espalhar boatos, atacar publicamente indivíduos ou divulgar informações sensíveis sem consentimento são práticas que podem ter consequências legais, mesmo que feitas “a partir de uma conta pessoal”.
Além disso, muitos criadores não têm formação básica em ética digital: conceitos como consentimento informado, manipulação emocional ou discurso de ódio muitas vezes são ignorados. Isso gera um ecossistema em que o conteúdo chocante ou viral é priorizado em detrimento do conteúdo respeitoso e verdadeiro.
Incluir formação legal e ética no desenvolvimento dos criadores digitais não é apenas uma recomendação - é uma necessidade urgente para construir um ambiente digital mais seguro, justo e transparente.
Dilemas éticos e desafios do conteúdo viral
A linha tênue entre informar com responsabilidade e buscar o máximo de visualizações e interações representa um desafio constante para quem deseja se destacar. Muitos criadores se sentem pressionados a gerar engajamento a qualquer custo, recorrendo a estratégias como clickbait, drama forçado ou polarização artificial para atrair atenção.
Esse tipo de conteúdo pode até gerar resultados rápidos em métricas superficiais (curtidas, compartilhamentos, comentários), mas, a longo prazo, corrói a confiança da comunidade e coloca em risco a reputação do criador.
Isso reflete uma tensão cada vez mais comum nas redes: o algoritmo premia o conteúdo viral, mas o público valoriza cada vez mais a autenticidade e a veracidade.
Ser um criador ético não significa abrir mão da criatividade ou do impacto, mas sim aprender a comunicar com profundidade, clareza e propósito. Isso implica um esforço consciente para equilibrar o apelo do conteúdo com a sua veracidade.
As marcas e agências também têm um papel fundamental: devem valorizar e premiar os criadores que priorizam a qualidade informativa em vez do sensacionalismo. Afinal, o futuro do conteúdo digital não depende apenas dos algoritmos, mas das decisões éticas que tomamos ao criar e consumir informação.
O que marcas e criadores podem fazer?
- Estabelecer protocolos internos de verificação para comprovar origem, data, fonte e consistência.
- Citar fontes oficiais ou organismos reconhecidos.
- Manter a transparência corrigindo erros de forma aberta e pública.
- Capacitar-se sobre leis digitais e propriedade intelectual.
- Priorizar a ética e o conteúdo útil e verdadeiro.
- Compartilhar experiências pessoais respaldadas ou contextualizadas corretamente.
Por outro lado, as redes sociais devem facilitar ferramentas de verificação e rotulagem transparente, as marcas podem exigir padrões de confiabilidade dos criadores com quem colaboram, e o público deve desenvolver um espírito crítico e exigir conteúdo de qualidade.
Em um ecossistema onde qualquer pessoa pode criar e divulgar informação, os criadores digitais devem agir com rigor e responsabilidade. Verificar fatos, citar fontes, respeitar os marcos legais e assumir um compromisso ético são passos essenciais para fortalecer a confiança do público e agregar valor real à conversa online.
Se você quer gerar um impacto autêntico com seu conteúdo e contribuir para uma comunicação digital mais saudável e verdadeira, comece a aplicar essas boas práticas.
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